terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Julguei com as palavras construir mundos
para substituir os mundos de que não gostava
mas acabei por ser apenas colecionador de inutilidades.
As palavras amontoaram-se nas margens dos dias
e eu naufraguei nelas, perdi-me e encontrei-me,
fiz delas barcos, ilhas, pátios de descansar da vida,
arquitetei sonhos e destruí muralhas de impedir horizontes.
As palavras foram as minhas caixas de guardar segredos
mas agora, quando os quero recuperar,
descubro que as memórias já não são as mesmas
e que o tempo inexoravelmente torna as palavras nos espelhos de si mesmas.
Um dia irei descobrir o que há nos nevoeiros
mas enquanto esse tempo não chegar
não serei cavaleiro de coisa nenhuma.
Tive a minha dose de sonhos e de ilusões
mas agora sei que todos os paraísos são perigosos
porque há sempre prisões e infernos
por detrás das verdades que se querem únicas.
Um dia talvez volte a acreditar num mundo novo
mas no momento tento não envelhecer demasiado
ou ficar encarcerado em qualquer memória sepultada.
Não estou preparado para converter a esperança numa bandeira
e partir numa viagem que acaba sempre em naufrágio.
Um dia encontrarei as respostas
mesmo para aqueles problemas que nunca tive
mas por agora bastam-me as perguntas
e continuarei insatisfeito à procura de mim.