terça-feira, 24 de abril de 2012

Leve, levemente, como quem chama por mim
com uma voz que é feita só de silêncios,
chegaste e partiste e deixaste-me o desassossego.
Não sei medir o tempo da ausência
e tornam-se pesadas as horas em que só tenho a tua imagem.
Não tenho saudades do passado,
tenho só saudades de ti
e a voz que tive uniu-se ao teu silêncio
porque, de tão densas, as memórias vão desaparecendo
deixando-me ainda mais sozinho nos dias vazios.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Quando escrevo o teu nome na areia do tempo
sinto que na minha carne cresce o desespero
e a memória é uma clepsidra rodeada de algas.
Atrasei os relógios e alterei os calendários
mas o teu nome permanece um sinal de desassossego,
o teu nome é um código secreto que se tornou inútil,
a chave que já não abre a porta dos mistérios.
Quando escrevo o teu nome na areia do tempo
fico à espera que as ondas o apaguem lentamente
e sei que continuarei a escrevê-lo
porque o pior de tudo seria o esquecimento.
O gato preto continua sentado no quintal vazio,
espaço onde certamente irão construir um prédio.
Quando isso acontecer, o gato terá que procurar outro lugar
para fazer as suas excursões soalheiras
e eu deixarei de o poder ver da minha janela
enquanto acerto o meu relógio pelas horas oficiais
e me preparo para mais um dia de trabalho.
Mas, por agora, o gato continua dono do seu espaço,
ironicamente alheio ao acertar do meu relógio
e às responsabilidades de quem precisa de trabalhar para viver.
Fecho a janela com raiva e nostalgia;
raiva por não poder ter a liberdade do gato
e nostalgia antecipada de quando o não poder ver.