segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Terminou o meu tempo de Ulisses,
pobre Ulisses que tinha a sua Penélope em Ítaca
e acreditava que a felicidade seria eterna.
Os deuses em que não acredito
castigaram-me por ser humano e livre,
quiseram que me tornasse submisso e crente,
mas mesmo infeliz e sem Penélope
recuso-me a abdicar da minha consciência.
Talvez seja esse o pior castigo,
o não poder abandonar-me a qualquer fé
e aceitar transformar a minha vida em destino.
Se fui Ulisses com Penélope e Ítaca
sou agora apenas eu a sobreviver ao desespero.
Continuo a ignorar os deuses;
não os desafio porque só se combate o que existe,
não os invoco em vão nem os critico,
apenas vivo sem a sua bênção ou maldição.
Não acredito em paraísos aqui ou noutro lugar qualquer,
lugar reservado somente para os obedientes,
aqueles que seguem fielmente a voz dos seus donos.
Terminou o meu tempo de Ulisses
mas uma coisa sei:
não estarei presente no meu funeral.