quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Todas as palavras repetem o indizível
e abrem caminhos nos labirintos do tempo.
Há quem as use sem qualquer cautela,
violentando-as, esvaziando-as de sentido
até que elas ficam exangues na moldura do instante,
estéreis e ainda assim terríveis na sua aniquilação.
Outros têm medo das palavras e evitam-nas,
revestem-se de silêncios que são gritos mudos
e, como as estátuas, olham para as coisas, estarrecidos,
desesperados rios cuja água secou.
As palavras podem ser fantasmas que nos assustam,
ameaças de realidades que queremos ignorar
ou prenúncios de sentimentos incómodos,
espelhos do que realmente somos.
As palavras têm o espírito da vingança
e revoltam-se contra quem faz delas a antecâmara do vazio
revelando muito mais do que as suas sombras.
Eu tenho medo das palavras
e elas fascinam-me como deusas que não o querem ser.
São inocentes as palavras na sua crueldade
e dão-nos o espaço da memória e o esquecimento,
aquilo que podemos dizer da vida.

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