sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

É insuportável a tua ausência, esta náusea de vida,
este naufrágio das sensações, este vazio,
a pedra que me ficou em lugar dos dias
porque esses perdi-os quando tu partiste.
Só sei que fui feliz em retrospectiva
mas foi demasiado curta essa felicidade,
foram demasiado breves os dias em comum,
o tempo em que a tua presença me preenchia a vida.
Desabou o meu mundo tranquilo,
perdi a bussola e o meu porto de abrigo,
fiquei sozinho num labirinto de mágoas.
A memória é como um remorso que arde e cura a ferida
mas nas imagens serás sempre jovem e inacessível,
terás a rodear-te um nevoeiro de saudades.
Não consigo acreditar que voltarei a ver-te,
seria talvez mais simples se tivesse uma crença qualquer
mas continuo racional e céptico,
insisto em ser fiel à minha consciência
mesmo que a fidelidade me impeça a esperança de encontrar-te
num mundo e num tempo em que não acredito.
A memória de ti é um espinho cravado na carne
que não quero arrancar
porque a dor que provoca me é indispensável
e sem ela perderia tudo.
A minha vida é um ritual de luto
e o meu único medo é esquecer-te.

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