terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Senhora, sou um marinheiro sem oceano,
abandonei o barco e fui castigado pelos deuses,
já não sei ler o rumo nas estrelas,
tenho saudades do tempo em que sonhava a viagem
mas não há nada que justifique a partida.
Senhora, os impérios estão todos esquecidos
e as terras encheram-se de gente e de relógios,
casas, ruas, instrumentos para entreter a vida,
já não há horizontes de medo e de esperança
e os homens são apenas o reflexo de si mesmos.
Senhora, os antigos portos estão abandonados,
morreram os heróis e os velhos do Restelo
e a vida continua pequenina e cómoda.
Desisti de procurar a felicidade
e são densas e pesadas as horas dos meus dias
sem a transparência das águas e os seus reflexos.
Senhora, nem tu me restas no desfilar de mágoas,
a tua única presença é a saudade
e sinto o sal que ficou prisioneiro da memória.

Sem comentários: