domingo, 9 de março de 2008

Minha senhora do nunca mais e da saudade,
inevitável ausência que dói na impossibilidade,
insisto em navegar nas águas da memória.
Não quero perder-te, não quero transformar-te em miragem
mas é difícil viver com o peso da tua morte.
A inevitabilidade é palavra que queima na sua crueldade,
é ausência de viagem, é morrer por dentro,
é a parede que me separa de ti,
a verdade que a criança em mim não quer aceitar.
Não quero transformar-te em esfinge
mas nos relógios do tempo há grãos de areia
e os barcos encalham antes da partida.
A inevitabilidade é remorso e vazio,silêncio,
densa espuma estagnada dos dias que não existiram
misturados com aqueles que quase foram nossos.
Minha senhora da vida que tivemos juntos,
eu que não sou religioso,
recuso a inevitabilidade e as suas sombras.
Não sei se serei feliz
mas nunca hás-de ser em mim o esquecimento.

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho lido estes poemas, onde reflectes as tuas mágoas, vivamente impressionado pela beleza triste e magoada das tuas palavras.
A minha sensibilidade diz que são poemas inesquecíveis para todos quantos os lerem. Por mim, não os esquecerei.
LS.

Donagata disse...

A intensidade a que sempre nos habituaste misturada agora a essa ferida aberta que te consome e te vai minando, deixa-me profundamente triste embora admita que leio poemas belíssimos, homenagens verdadeiramente dignas da pessoa a quem se dirigem.
Um beijo grande.