terça-feira, 15 de abril de 2008

Como é que se mede a saudade pelos calendários,
com que relógios podemos recuperar o tempo que perdemos,
de que servem as palavras se os silêncios são totalitários
e magoam na sua cruel inutilidade,
como resistir ao desespero dos dias cancelados
se o único sentimento é o vazio de ti
e a tua ausência grita no interior da voz interrompida?
Adormeço e acordo na mesma náusea surda,
repito os gestos, finjo a esperança congelada
e dir-se-ia que vivo sem saber o que é a vida.
O espelho devolve-me a imagem de uma falsa serenidade,
sinto que crescem as rugas na face da alma
e enfrento a aventura dos dias normais
com a mesma cobardia com que enfrentaria a morte.
Os silêncios e os relógios paralisados ficam prisioneiros das palavras
e tudo é memória e saudade a substituir-te o corpo,
estátua de sal e nevoeiro que temo dissolver-se
perante a crueldade do tempo que não quer saber das minhas mágoas.

1 comentário:

Donagata disse...

Não podes medir a saudade, apenas a podes sentir e ir tentando suavizar, adormecer devagarinho, por momentos, esse sentimento.
Pensa que as pessoas não partem, apenas estão ausentes...
A mágoa, a dor, essa esperança congelada de que falas, serão naturalmente espinhos que irás sentir sempre cravados e que talvez só o tempo venha a amenizar.
Um beijo.