quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Acusam-me de Narciso por estar prisioneiro de mim
e me ter constantemente na consciência,
acusam-me de obsessivo e inseguro,
afirmam que desisti da viagem
quando só estou suspenso entre o momento e o futuro,
seja ele qual for, sem traços do destino.
Subsisto dos fragmentos da memória,
resisto à maldição das estátuas de sal,
com as palavras combato a aridez do papel
mergulhando nos mistérios da água primordial.
Narciso não sou nem outra qualquer figura mitológica,
não pretendo imitar a vida de ninguém
e se continuo na prisão dos meus limites
não é porque tenha desistido já da liberdade.
As palavras são afinal insuficientes
para desenhar os contornos do silêncio
e explicar as circunstâncias de uma vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto da forma como escreve, analisa e sintetiza. Mesmo que muito do que transparece não mais seja que saudade, aparente, de um barco que somente partiu.