segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Os piores labirintos são os das palavras
porque neles está e escondido o nosso próprio monstro,
aquele que nos conhece desde o nascimento,
aquele que nos pode aniquilar os sonhos
mantendo-nos vivos num corpo de cadáver.
Os piores labirintos são os dos silêncios,
labirintos de ausências,
vestígios das esfinges a guardar os desertos.
A memória recusa-se a voltar a Creta e aos seus fantasmas
porque os heróis antigos perderam-se no esquecimento
quando Ariadne deixou de tecer os seus novelos.
A memória é herdeira de outras viagens de Ulisses
mas os monstros e as sereias foram vencidos pelo tempo
e os únicos vestígios são as palavras que escrevo
juntamente com os silêncios que vestem o meu corpo,
tudo labirintos que a minha memória esquece
na sua tarefa de desistir da imortalidade.

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