segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Rituais

Há pequenos rituais nos espaços públicos,
gente que se conhece desconhecendo-se através das palavras,
repetindo os gestos até ao seu absurdo,
repetindo os reflexos de uma normalidade habitual.
Eu sou o estrangeiro a tudo o que se passa,
venho de longe onde não há sinais codificados
e onde as palavras não estão ainda domesticadas.
Eu sou aqui o intruso, o inexplicável,
aquele que não encaixa nos esquemas,
o enigma que perturba a tranquilidade e a estilhaça.
Só eu não pertenço à realidade habitual
porque não faço parte dos rituais constituídos
e uso as palavra como facas para cortar os dias
em lugar de adormecer no seu regaço.
Quando sair daqui será um alívio,
tudo poderá regressar ao aquário transparente
e eu levarei comigo a minha inquietação
povoada de palavras que ainda não foram usadas.

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