segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

As palavras

As palavras são os sinais do silêncio
e no entanto estão saturadas dos ruídos das coisas,
são vulcões que só a morte extingue
deixando como resíduos os ecos da memória.
Há quem lhes prometa fidelidade
ignorando que elas são eternas esfinges,
mulheres de fogo e cinzas, espelhos nossos.
Há quem pretenda desconhecê-las
querendo por força regressar ao caos primordial
mas elas estão presentes mesmo quando desprezadas.
As palavras são a pele das estátuas sem idade
e como elas são testemunhas do que aconteceu,
cúmplices de todas as estratégias do esquecimento.
Há palavras que se saboreiam lentamente
e outras que são pedras nos intervalos do tempo,
incómodas portas que se abrem para o vazio
ou nos deixam prisioneiros dos labirintos.
Confesso que gosto de todas as palavras
mas há algumas, ausência e morte,
que me magoam profundamente
e não consigo usá-las como se fossem símbolos,
inócuos sons para despertar memórias.
Confesso que não consigo imaginar a vida sem palavras
embora saiba que elas podem ser violentas,
recados de uma inexistência permanente,
sinais a substituírem aquilo que se perdeu irremediavelmente.
Como os dias, as palavras acumulam-se no fundo da ampulheta
e nunca saberemos o que será de nós quando acabarem.

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