terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Não me peçam nem me dêem conselhos,
não quero viver aquilo que pensam que é correcto
nem quero que vivam à imitação de mim.
Confesso que hesito e que me engano,
confesso que tenho mais perguntas do que respostas,
confesso que me irritam todos os que se querem modelos
porque não há manuais e tudo é provisório.
Com palavras construímo-nos e com silêncios
mas os que pretendem transformar-se em faróis no nevoeiro
confundem o vazio das palavras com o seu próprio vazio
e são profetas cegos a conduzir outros cegos.
Os meus mapas e os meus passos são meus e meus somente;
não quero levar ninguém nem que me levem.
Confesso que procuro a felicidade
mas ela não é uma prisão nem um campo de ovelhas
e sem inquietação não há humanidade
porque a definitiva paz só existe na morte.
Não me dêem nem me peçam conselhos;
assumo a responsabilidade por mim e pelos meus actos
e sei que não estou sozinho
porque só estarei sozinho quando me fechar nos meus limites
e me reduzir a um espelho convexo.
Não me queiram à força animal de companhia,
não insistam na ideia de que há receitas para tudo
e que o destino está escrito nos astros
ou em qualquer outro lugar perdido no nevoeiro.
Não transformem as palavras em oráculos de sombra
porque não quero saber das pitonisas da desgraça.
Não me peçam nem me dêem conselhos.
Não há epitáfios que sejam maiores do que uma vida.

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