quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ausência e dor não deviam fazer parte da condição humana.
É quase insuportável carregar o peso dos mortos,
acordar de noite com o vazio como companheira,
naufragar na vida e abandonar a viagem.
O amor, como nos livros, deveria ser superior a tudo
e impedir até que a morte se interpusesse entre nós
proibindo tudo aquilo que havia ainda para fazer em conjunto.
A memória nunca deveria ser o substituto da companhia.
Parem os relógios, proíbam os calendários
até que o tempo deixe de ser uma ferida infectada,
um espinho que incomoda e dói na persistência.
Ensinem-me como se aprende a viver com a morte
mas não me ofereçam discursos de como reconstruir a felicidade
porque as palavras mentem na sua inutilidade.
O silêncio nunca deveria ser definitivo,
impossibilidade de comunicar, ausência de voz,
interrupção da palavra que ficou interdita.
A memória nunca deveria ser o antídoto para o sofrimento.
Façam de conta que voltei a ser a criança que perdi em mim
e prometam-me um colo onde possa simplesmente adormecer.
Preciso urgentemente de recuperar a esperança

Sem comentários: