sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Os dias apesar de tudo persistem na cadência morna,
os silêncios substituem as palavras mortas
e eu deixo que tudo à minha volta se misture
até que a atmosfera de labirinto seja a única verdade.
Os relógios continuam a ser objectos absurdos,
generais das guerras interiores dos sentimentos,
carcereiros do tempo e mensageiros da inutilidade.
Estou condenado a ser um arqueólogo das memórias,
converto-as em imagens, em fragmentos de vida,
em palavras que só em mim têm sentido.
Os meus dias são pesadas sonolências
de quem não acorda de um infindável pesadelo.
Apesar de tudo não me sinto abandonado pelos deuses
porque o destino não existe
e os deuses só têm poder sobre quem neles acredita.
Nos calendários os ciclos do tempo institucionalizam-se
e podemos fingir que algumas datas têm importância
esquecendo que de ano para ano apenas ficamos mais velhos,
mais cansados de ransportar a vida às costas
carregando com ela todas as nossas ilusões frustradas.
Os meus dias são assim, de viúvo de mim próprio
com raiva de não poder rasgar os calendários.

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