sábado, 27 de fevereiro de 2010

De Homero são os olhos de ver no interior da realidade,
do minotauro é a certeza da chegada do herói ateniense
trazendo consigo a morte e a fama póstuma,
de Penélope é o cansaço da inútil espera
de costas voltadas para um mar aparentemente dócil.
As caravelas que passaram além do Bojador
iam carregadas de sonhos e de impérios,
as caravelas que partiram rumo às ilhas dos amores
regressaram com marinheiros aposentados,
poetas sonâmbulos ancorados nos bancos das cidades.
Vários reis substituíram os seus reinos por densos nevoeiros
vigiados por cavaleiros de triste figura
e houve mesmo quem lhes chamasse paraísos.
Tudo isto são fragmentos da memória
de uma criança que confundiu a vida com os livros
e viveu intensamente por intermédio de interpostas pessoas.
Mais tarde houve uma menina na janela,
donzela sem dragão nem princípe perfeito,
palavras,gestos, promessas interrompidas.
Também a menina da janela se partiu
deixando só lembranças e a ausência.
Depois foi o vazio de sentimentos,
a imobilidade da esfinge que se petrificou no tempo.
Tudo isto são páginas da vida da criança grande
resistindo ainda e sempre ao desespero.

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