terça-feira, 17 de maio de 2011

O espaço e o tempo são ilusões perigosas,
dizem os que preferem a tranquilidade das cavernas
e se habituam às imagens que espelham o seu vazio.
Livrai-vos de desejar o impossível,
repetem em ladainha os cultores da mediocridade,
todos os que se contentam com as sombras
e vivem nos escombros das casas que foram seguras.
Eu, que não acredito nos seus paraísos com grades nas janelas,
sou a ameaça, a inquietação e a raiva,
viajo destruindo as barreiras e os limites,
desafiarei a morte ao não aceitar a passividade dos desistentes.
Que me importa se ainda existem inquisições nos olhares escandalizados
de quem me preferia subjugado, fiel a uma qualquer verdade?
Eu, que não sou santo nem demónio
e moro onde mora a minha liberdade,
sou a subversão, a criança que teima em perguntar
mesmo quando insistem em que todas as respostas foram já dadas.
Que me importa o futuro na forma de paraíso
se por causa disso houver injustiça e morte?
Eu, que não faço parte de nenhum rebanho
e não sou candidato a profeta ou a líder de causas,
imagino que um dia acabará a escravidão
e teremos o mundo que os deuses nos proibiram.
Que me importa que digam que sonhar é próprio da infância
só para me obrigarem a aceitar a condição de cadáver adiado?
Não quero trocar as cores do desejo
pela segurança de uma coleira bem apertada,
não quero que digam que fui bem comportado
à imagem e semelhança dos modelos institucionalizados.
Que me importa que sejam muitas as regras e as proibições
e os memoriais estejam atafulhados de castigos?
O espaço e o tempo são o oceano onde navego
e desejo tornar real o impossível
sem no entanto me ambicionar conquistador de um qualquer paraíso.

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