terça-feira, 31 de maio de 2011

A pedra tem remorsos da ferida que abre na cidade,
remorsos que escorrem dos cartazes rasgados
e das luzes coadas pelas janelas semi-fechadas.
As palavras recusam aprofundar os nevoeiros
e são apenas sombras que encobrem outras sombras,
vestígios de silêncio e cadáveres contra vontade.
Com a pedra das palavras imagino a cidade,
reconstruo-a rua a rua, casa a casa
mas deixo por acabar o pátio da minha infância.
Quem me pode censurar pelo musgo que cobre a pedra
e pelas palavras que nunca fui capaz de usar?
Quem, a não ser eu, pode compreender a estátua
que vigia impassível a entrada e a saída da cidade?
Confesso, sou o que resta da cidade imaginada
e da poeira do meu corpo poderão ressuscitar sonhos.

Sem comentários: