sexta-feira, 24 de junho de 2011

Ainda me dói a possibilidade dos dias diferentes
e essa dor surda e persistente arranha-me a alma
ou aquilo a que antigamente chamavam alma
porque não sou dado a esses sentimentos metafísicos.
Não é minha intenção transformar a dor no meu destino
mas serei sempre o que sobrou da tua ausência.
Não é possível revestir completamente a dor de palavras
e mesmo que o fosse isso não aliviaria a dor
nem tornaria as realidades trágicas mais aceitáveis.
A dor é dor apesar das palavras e das metáforas
e não cabe no poema as fronteiras da mágoa
porque tudo o que está para além do silêncio é indizível.

1 comentário:

António Franco disse...

Apolíneo e Dionisíaco



A Vontade vive prisioneira
Inveja o Vento
É cativa e mentirosa
Mora sem morar na gente!
Murmura no silêncio das trevas
Transpira nas noites tormentosas

O Vento – esse libertador
Vagueia intempestivo sem rédeas

A Vontade tem vontade de ser Vento
Rebentar as amarras
Olhar em volta os estilhaços
Gritar aos zumbidos lancinantes

O Vento – esse libertino fugidio
É respeitado
Acaricia as fragrâncias coloridas
Enamora-se deveras das beldades
Junto ao mar chamam-lhe tolo
Demoníaco no pastar
Agracia as aves no voar

A Vontade fixa o Vento no seu girar
A Vontade é impotente
É resignada
A razão é sua mãe

O Vento – esse demolidor
Vagueia em desafio à Vontade…


A.Franco