domingo, 19 de junho de 2011

É perigoso explorar as margens do silêncio;
encontramos os nossos medos e paisagens desertas,
desenterramos os espelhos partidos e os brinquedos esquecidos,
regressamos à casa velha e aos quartos escuros.
Por mais serenos que pareçam ser os silêncios
eles escondem pesadelos e engrenagens soltas,
ameaçam a nossa previsibilidade
abrindo espaços entre a nossa pele e a realidade.
Os silêncios têm a teimosia da chuva intermitente
e por isso são perigosos como sereias misteriosas.
Os silêncios segregam nevoeiros
onde se adensam os nossos nevoeiros interiores.
É perigoso ultrapassar os limites do silêncio,
não porque haja esfinges ou árpias a anunciar a morte,
mas por ficarmos sozinhos com nós mesmos
sem encenações ou grandes frases de ocasião.
Os silêncios são os nossos íntimos reversos
e é sempre perigoso olhar para nós sem ser nos espelhos.

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