segunda-feira, 27 de junho de 2011

Em dia de exame de Matemática

As contas da vida cada vez são mais difíceis de fazer:
éramos dois e fiquei só eu
numa operação sem raízes quadradas ou hipotenusas,
tínhamos sonhos e ficou a memória deles,
memória fragmentada e prisioneira das palavras.
Nunca fui bom a matemática
e não estou disposto a multiplicar mágoas
ou a dividi-las por ilusões perigosas.
Nunca se devem somar os sofrimentos
ou subtrair a vida ficando apenas com os reflexos.
Quando nos reduzimos a contabilistas do deve e haver
o enigma que fomos fica cristalizado num espelho
à espera do momento em que alguém o venha quebrar
estilhaçando a esperança e o que de nós restar.
As contas da vida são por vezes surpreendentes:
julgávamos que os dias tinham superfícies transparentes
e quando os reunimos num caderno de impressões
descobrimos que nele há muito mais do que horas e minutos.
Razão teriam aqueles sábios improváveis
que defendiam que não se podem substituir as almas por números
ou vice versa
porque o universo é maior do que um livro
mesmo que o imaginemos com as páginas em branco.

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