terça-feira, 27 de novembro de 2007

Fui Sandokan

Fui Sandokan e abalroei navios piratas,
enfrentei tempestades, desenterrei tesouros.
Tinha um tigre de estimação a dormir no telhado
e quando morreu envenenado pelos vizinhos
mantive-me forte e não chorei
porque um herói não chora.
Foi talvez nesse momento de verdadeira morte,
ainda que a morte de um animal de estimação,
que a infância começou a separar-se de mim
e partiu na direcção da memória.
O Sandokan voltou aos livros de aventuras,
tenho uma gravata no interior da alma
e domestico as palavras para depois as deixar morrer.
Ninguém sabe que fui Sandokan
e mesmo eu desconfio que tenha sido essa criança,
feliz no seu mundo que transcendia a realidade.

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