sábado, 13 de março de 2010

Escolhemos com cuidado as palavras para mentir os sentimentos,
vestimo-las com as cores dos nossos silêncios,
acordamos nelas como se fossem a nossa casa habitual,
aprendemos a usá-las como velhos marinheiros
que ainda sonham com um horizonte por detrás da distância.

Não são apenas máscaras, as palavras,
roupas adequadas às diversas situações,
não são rostos de sombra nem deusas que o tempo envelheceu,
não são códigos secretos, as palavras,
alquimias malignas de apequenar os homens.

Pesamos as palavras como se fossem pérolas ou pedras,
disfarçamo-las com os biombos das vidas por viver,
adormecemos com espaços vazios que elas alimentam.

E mesmo assim são por vezes incómodas, as palavras,
chegamos a desejar a sua ausência
mas quando elas faltam somos apenas as inúteis esfinges
à espera que reinventem a imortalidade.

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