quinta-feira, 18 de março de 2010

Neste país onde a terra acaba e o mar começa
não sou monge senão de mim
sem eremitério, virgem predestinada ou livro de orações.
Tenho enjoos de água, pesa-me já o corpo
depois de ver todas as naus que partiram
e ainda não sei se existem novos horizontes
para além da distância que as crianças imaginam
enquanto brincam com as estrelas na praia.
Também eu já fui criança na minha praia imaginada,
também eu escrevi nas margens da areia
e doeram-me as palavras que se desvaneceram
como se elas fossem pessoas reais e conhecidas.
Passou o tempo das naus e das crianças na praia
e hoje só restam os vestígios das gaivotas,
essas metamorfoses das naus e das crianças,
as gaivotas que vêm pousar no meu telhado
e falam comigo numa linguagem que não entendo
porque entretanto cresci e perdi a magia da infância.
Sou órfão deste país da minha memória
mas começa a chover e fecho a janela
sem saber se lá longe o mar ainda persiste.

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