terça-feira, 2 de março de 2010

Na Inquisição dos dias torturados sou um penitente,
judeu sem fé, homem sem deuses.
Feridas de sangue abrem-se-me na carne
e ouço os risos escarninhos dos espectadores,
daqueles que se limitam a assistir à vida dos outros.
Ainda não aprendi o dom da insensibilidade
e o fogo arde como um sofrimento inapagável,
o fogo é uma coroa de espinhos que me violenta a consciência.
Afundaram a minha nau das descobertas,
queimaram os meus livros e as minhas memórias,
amortalharam-me numa visão do inferno
e usaram-me para publicitar as suas ideias de ódio.
Podem até ser verdadeiras as suas verdades
mas ninguém deveria ter que morrer por elas.
Ouviram-me gritar mas permaneceram imóveis,
fechados nas prisões das suas casas cómodas.
Na Inquisição dos dias insepultos sou um penitente
e sigo os meus passos nesta infinita procissão do desespero.

Sem comentários: