sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não escrevo tudo quanto sou;
há uma diferença entre o sentido e o que é dito
e as palavras não são espelhos transparentes.
Aliás, sou o que sou tão descontinuadamente
que o que escrevo não acompanha o que vou sendo
e, por pudor, omito o que não quero saber de mim.
Não, talvez não seja por pudor
mas a verdade é que me escolho no que de mim escrevo
e, depois, quando me leio, quase que não me reconheço.
Não se trata de mentir ou de dizer a verdade,
já basta de explicarem tudo com os espelhos de Narciso;
eu sou apenas eu e o que vou acrescentando
não para ser mais interessante ou ideal
mas porque cada dia descubro mais de mim em mim
numa permanente viagem em que sou o viajante e o barco
e também o oceano onde navego
até chegar a mim, porto e origem de tudo quanto sou.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito deste poema, stôr - está tão bonito!