sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Podem as palavras permitir a transsubstanciação da realidade?
Quando as palavras aparecem urgentes,
vindas do mais fundo dos profundos silêncios,
há uma magia que ultrapassa o visível
e que não se guarda na memória dos homens.

Podem as palavras transportar-nos para além das distâncias?
Quando as palavras ganham corpo de argonautas
e têm qualquer coisa da consistência das caravelas
viajamos nelas muito para além das ilhas do isolamento
e descobrimos o secreto prazer de não ter destino marcado.

Podem as palavras fazerem-nos alcançar a eternidade?
Também as palavras são corruptíveis, degradáveis
e são companheiras da inconstante memória,
aias insubmissas de uma tradição que se quis perpétua
mas que se alimenta da inquietação dos homens.

Amo as palavras não porque sejam perfeitas
ou mágicas ou caminhos de liberdade
mas simplesmente porque sem elas seria o impossível vazio,
o negro mais negro da insuficiência humana.

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