terça-feira, 10 de julho de 2007

Dormia Ulisses um sono transparente

Dormia Ulisses um sono transparente,
O seu corpo pousado sobre a pedra
Como se fosse dela um prolongamento
Quando de longe se ouve o eco de Penélope,
Suave voz que a memória não recorda,
Serena água que atravessa a distância
E se detém junto do corpo adormecido.

Foi apenas um breve momento,
Quase um prenúncio de um sonho
Ou a memória que nos ficou dele.

Da voz de Penélope fica a estátua,
Perpétuo sinal da palavra silenciosa
E do corpo de Ulisses
Só o sono não interrompido
Evoca ainda o momento do encontro,
O desafio aos deuses cruéis e insensíveis
Que interditam a descoberta do desejo
E encobrem o momento do regresso
Por detrás de um desespero com nome de deserto,
Denso paraíso das consciências tranquilas,
Longínquo labirinto de paredes de vidro
Que outros minotauros preservam
Sob a forma dos generais da santidade.

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