terça-feira, 10 de julho de 2007

O corpo reflectido no espelho

Dedos, drásticas palavras silenciadas,
Incorruptas vertigens e virgens iluminadas,
Inocente sorriso de esfinge, a ausência,
Noite que em sobressalto se aprofunda no vazio,
Nevoeiro, lento liquefazer das pedras,
Sinuosa viagem nos limites da memória,
O sal, o musgo, o debruar dos dias,
Crianças que brincam nos pátios impossíveis,
Cidades ancoradas nas intersecções das sombras,
Arrepio, raiva de minotauro em febre e luz,
Loucura de poeta manso de remoer impérios.

O corpo todo reflectido no espelho,
Alice no transfigurar das histórias proibidas,
A escada, a janela a encaixilhar a distância,
O gesto semeado numa qualquer manhã inesperada,
As palavras ainda molhadas da urgência,
As flores, as cinzas do que foi o êxtase,
A porta de abrir passagem para o imprevisto
E sempre a sensação que ainda persiste
De que a felicidade é isto de ignorar o destino.

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