terça-feira, 10 de julho de 2007

Minha senhora do nunca

Minha senhora do nunca
Nesta capela improvisada do meu quarto
É em ti que acredito desesperadamente,
No teu corpo vestido apenas de silêncio,
Nesse corpo que recusa os altares
E é de vez em quando o ancoradouro do meu corpo.
Seja heresia ou não eu adorar-te
És minha no interior das paredes vazias do meu quarto.

Minha senhora do nunca,
Religião de sombras e luz, de claridades,
Oráculo de públicos segredos,
Feiticeira das sensações, relógio de água,
Viagem, lenta respiração das árvores,
Sagrada heresia de quem não conhece o destino.
Minha senhora do nunca,
Sou o ateu que em ti acredita,
Construo sobre o teu corpo a capela imperfeita
E venero-te vida que me acrescenta vida.

Minha senhora do nunca,
Secreta divindade antiga
Sem oráculos de morte,
Nocturna presença adivinhada,
Penélope convertida em feiticeira,
Dá-me de beber a água da tua inquietação,
Mergulha-me no oceano das palavras retidas,
Faz-me rei e senhor de coisa nenhuma,
Deixa-me ao menos acreditar na impossibilidade,
Deusa como tu inacessível e real.

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