segunda-feira, 9 de julho de 2007

Saudades

Que é feito dos marinheiros que já não podem sonhar lonjuras,
Que é feito das crianças que ficaram no cais sem despedidas,
Que é feito do meu país que se perdeu nos nevoeiros?


Tenho saudades dos enjoos de água que nunca tive,
Tenho vertigens de subir aos mastros mais altos,
Tenho nos olhos as estrelas que me guiavam nas viagens,
Tenho as palavras deixadas em herança pelas últimas sereias.


Que é feito dos adamastores convertidos em funcionários públicos,
Fieis cumpridores de horários, pais de família,
Rotineiros viajantes dos domingos obrigatórios e iguais,
Remoendo pesadelos de verdadeiras e inimitáveis vidas?
Que é feito dos imperadores dos seus desertos,
Conquistadores de efémeras famas que nunca foram registadas,
Inúteis sonhadores nas margens de um oceano impossível?


Sou eu a criança que não deixaram ir até ao cais
Para se despedir de quem não partia,
Sou eu o menos importante de todos os marinheiros,
Aquele de que nunca se sabe o nome quando do naufrágio,
Sou a ausência de adamastor, o imperador por impossibilidade,
Sou o sorriso da sereia quando chora
E não sei o que sobrou de mim na força das tempestades
Esses sonoros testemunhos do destino de não o haver.

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