quinta-feira, 12 de julho de 2007

Manhãs

Longas manhãs de gritos lentos despertam as estátuas
E pela pedra perpassa o milenário espanto
De quem sente o seu segredo violado
E espera com ansiedade os anões do sacrifício,
O estilhaçar dos espelhos e os desertos.
Nas manhãs assim os animais petrificam-se,
De longe nos chega o ladrar dos cães,
O lento silenciar do riso e das vozes,
A dor que dói no interior do corpo,
As rezas das velhas e as ladainhas roucas.
Fico em casa porque sei do perigo
Que é para os homens a sombra do destino,
Lâminas inertes a ocupar um espaço.
Desde pequeno me ensinaram que as viagens
Se devem fazer no interior do nevoeiro,
Nas noites da intensa e pura claridade
E como mapas devemos levar os horizontes
Indiferentemente divididos nos quatro pontos cardeais,
Rosa dos ventos de não saber o caminho.
Lentas manhãs de sons suspensos adormecem os pássaros
E a carne deixa de ser o limite para o corpo
Porque por mais que a morte esteja convidada
Só as crianças compreendem os segredos da memória,
Fénix que se recusa a transformar-se em cinza.

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